

ENTRE RIOS E ENCANTARIAS: UM PERCURSO POR SANTARÉM E SEUS TERRITÓRIOS DE SABER
No coração do Pará, a margem da água azul-esverdeada do Rio Tapajós e da água barrenta do Rio Amazonas, visivelmente separadas, está Santarém. Um lugar onde a beleza se encontra no mistério da natureza e na sabedoria de um povo que tece, diariamente, com determinação e coragem, a cultura raiz que resiste e existe. Santarém é reza que corre pelos igarapés, é canto que nasce do som do curimbó. É boto que se veste de gente para encantar a tradição. É o Çairé que mistura celebração, encantaria e oração.
Nas panelas, o tucupi borbulha histórias. Na cerâmica, mãos moldam memórias. Cada cesta é um mapa da palmeira colhida na lua certa, da história passada de avó para neta, do cuidado que se aprende com a floresta. Nos rios os barcos deslizam com paciência de quem sabe que o destino é mais do que a chegada. É vento. É caminho. É conversa com as águas.
O povo de Santarém tem a firmeza das raízes, o tempo das águas e a leveza do vento que sopra das praias invisíveis, que só quem é do lugar sabe nomear. Ali, onde a floresta respira no meio da cidade, onde cada canto é resistência, onde cada gesto é herança, onde cada festa é rito é que cheguei da Bahia para contar esta história. Uma história vivida, sentida e querida de um Brasil que pulsa cultura e tradição.
Santarém é pé descalço dançando carimbó na poeira fina dos quintais. Santarém é Borari, Tapajó, Tupaiú, Arapiuns... Território de encantamento e patrimônio vivo da Amazônia.
Da divulgação do Instagram para o 2 Encontro Internacional de Ceramistas Indígenas nasceu a vontade de ir para Alter do Chão, ver e aprender a moldar o barro com os povos originários da América do Sul. O lugar e a data escolhidos para a realização do encontro, o mês de setembro, era também a data do Çairé, um evento anual, feito pelo povo, que reúne rituais católicos, danças indígenas, simbologias próprias, música popular e uma forte presença do imaginário ribeirinho, traduzido no duelo entre os botos tucuxi e rosa. Um lugar de beleza natural sem igual, de praias que nascem com a seca dos rios e desaparecem com as chuvas que transbordam.
De Alter do Chão segui para conhecer o Contra Mestre Pinóquio do Grupo de Capoeira Angola Maré de Março de Santarém e embarcar em uma viagem de barco, de forma tradicional, para Urucureá junto com Ana Carolina, que me levava para conhecer o Projeto Tucumarte e a Festa de São Miguel Arcanjo.
Foram 15 dias de imersão nos movimentos de resistência do povo santareno. Uma experiência de um Brasil que corre nas minhas veias, apesar da distância geográfica.
A




Santarém
Sou um parágrafo. Clique aqui para adicionar e editar seu próprio texto. É fácil.