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Beija-Flor de Nilópolis

Por Kithi

Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2020

“O que faz essa escola ser diferente de todas as outras é o amor que a gente tem por esse pavilhão. É o que faz a gente vim aqui toda quinta-feira cantar. É o que faz o barracão trabalhar mesmo no momento de dificuldade...” 

Com essa frase Gabriel David, da família Beija-Flor, iniciou seu discurso no último ensaio de 2020, antes do desfile na Sapucaí.

As pessoas ouviram as breves palavras de incentivo e força para no minuto seguinte cantar e sambar sem parar durante umas cinco horas. A garra necessária ao desfile oficial faz parte do ensaio.

 

O amor anunciado ultrapassa os muros do pavilhão e atinge até mesmo aqueles que não gostam de carnaval. O povo Nilopolitano reconhece a importância da escola que também oferece atividades culturais para a comunidade durante todo o ano.

 

Ser da Bahia neste lugar é um diferencial que influencia na recepção, fui recebida com muito carinho por todos, sem exceção, podendo atestar ser verdadeiro o que diz a letra do compositor local Mestre Osório Lima.  

 

“Nilópolis terra da magia, quem é de Nilópolis é a mesma coisa que ser da Bahia” 

 

E é esta magia que alimenta a fé de uma nação sincrética que vai para as ruas, em forma de escola de samba, levando uma mensagem de coragem e confiança nas Divindades que conduzem o povo. 

“Se essa rua fosse minha” traz dois refrãos, um que reverencia o Orixá Exu, o professor, o movimento, aquele que orienta os caminhos das ruas.

“Ê Laroyê Ina Mojubá

Adakê Exu ô, ô, ô

Segura o povo que o povo é o dono da rua

Ô corre gira que a rua é do Beija-Flor!”

E o outro que fala da fé daqueles que em romaria vão pedir a ou agradecer Nossa Senhora Aparecida os milagres para as suas vidas. 

 

 “Nilopolitano em romaria

A fé me guia! A fé me guia!”

O vídeo mostra um pouco do ensaio que é realizado inúmeras vezes antes do carnaval. Imagens e edição: Kithi

Defendido por Neguinho da Beija-Flor, o interprete/puxador mais antigo em atividade a desfilar este ano, o samba é de arrepiar.

 

Para Farid Abrahão David, prefeito da cidade, é muito importante o contexto religioso, veja no vídeo abaixo o que ele fala sobre o samba-enredo deste ano.

Farid Abrahão David. Imagens: Kithi e Oba Adejuyigbe Adefunmi / Edição: Kithi 

Beija-Flor, uma escola que fez o mundo conhecer Nilópolis

história da escola de samba contada pelo compositor Mazzim Mazamba fala da trajetória de um povo simples que aprendeu a conquistar o seu espaço entre os campeões.  

 

O caminho iniciado com um bloco carnavalesco em 1948 ganha força quando Nelson assume a presidência da agremiação e na sequência, em 1972, entra como patrocinador o seu irmão Anísio Abrahão David.

 

A quadra começou a ser transformada. Foi cimentada, ganhou banheiros, rede de esgoto, local para guardar os instrumentos, trocou a cerca por tijolo... quem era morador ficava curioso pela obra e acompanhava passo-a-passo até que chegou o dia da inauguração quando a quadra lotou.

 

O investimento em infraestrutura colaborou para o aumento do número de componentes mas a virada só aconteceu com a chegada de Joaozinho Trinta que iniciou a sua jornada em 1976 com o enredo em homenagem ao jogo do bicho.

Letícia canta um trecho do samba do pai Gilson Castro "Sonhar com Rei da Leão"

Em 1978, já no primeiro grupo, Joazinho Trinta resolveu inovar e lançou a proposta do enredo ser a "Criação do Mundo Segundo a Tradição Nagô". O samba que tem Mazzim como um dos compositores ganha o primeiro lugar entre as melhores escolas de samba do Rio de Janeiro.

"Três anos que estávamos no primeiro grupo fomos campeões no meio das grandes. Uma escola pequenininha ganhou das mais famosas do Rio. Foi aquele alvoroço. Como uma escola que veio de lá do subúrbio, da roça, com as ruas ainda de chão, ganham das melhores?" Fala Mazzim.

 

A tática de Joaozinho trinta era desconhecida das demais escolas. Ele fazia reuniões semanais para saber onde era preciso melhorar e assim ele foi transformando pouco-a-pouco, dificuldade em maestria. 

Por exemplo, se o problema era na evolução ele levou o ensaio para rua e o povo que ia apreciar também. Além de melhorar o desempenho dos participantes no quesito, ganhou para escola muitos adeptos.

Nesse movimento a Beija-Flor foi crescendo, dando visibilidade a Nilópolis e a Baixada Fluminense que passou a ter uma escola de samba diversas vezes campeã.

 

Hoje, além do carnaval, a escola oferece outras atividades a comunidade, veja no vídeo de Dr. Getúlio Sessim, o médico da cidade.

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