Nos estertores do século XVIII da velha São Salvador de ladeiras e becos, os fiéis a caminho da missa no alvorecer daquele domingo de 12 de agosto de 1798 foram os primeiros a avistar manuscritos anônimos afixados em locais estratégicos com uma mensagem conclamando contra o domínio português: “Animai-vos povo bahiense que está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade”.
O manifesto foi o primeiro de uma série de 12 boletins de teor revolucionário colados pela cidade nos dias subsequentes, contendo protestos e reivindicações libertárias.
Alertado, o governo agiu rapidamente e iniciou a repressão, identificando e prendendo os autores dos panfletos.
Ao cabo de duas semanas, contando com o auxílio de delatores, as autoridades sufocaram o levante que ficou conhecido especialmente como “A Revolta dos Búzios”, numa referência à pequena concha que os rebeldes utilizavam como adereço no pulso para identificarem-se entre si.
Um ano mais tarde, quatro dos condenados receberam de um tribunal a sentença de morte. Negros, eles foram enforcados e partes de seus corpos, durante cinco dias, estiveram expostos pela cidade.
Um deles - João de Deus do Nascimento, é a inspiração do professor e historiador baiano Flávio Márcio Sacramento, sobre quem ele escreveu um livro (ambos são conterrâneos de Cachoeira, no Recôncavo Baiano).
“O Mestre Alfaiate da Revolta dos Búzios” foi lançado na Igreja do Rosário dos Pretos. O lançamento, em comemoração aos 224 anos da revolta, esteve antecedido por uma roda de conversa que também contou com as participações da educadora Janice Nicolin e do professor Abílio Manuel de Mendonça.
O evento foi uma realização do Núcleo de Estudos Africanos e Afro-brasileiros em Línguas e Culturas, da Pró Reitoria de Extensão da UNEB e da Irmandade dos Homens Pretos.
Vai ouvindo a conversa no áudio abaixo.
(Duas referências musicais citadas na roda de conversa:)
Cultura Africanizada (Olodum) https://www.youtube.com/watch?v=Ehn8qy9_DCw
A esperança de um povo (Ilê Aiyê)
https://www.youtube.com/watch?v=17lwQpElkrU
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